sábado, 20 de fevereiro de 2010

Dilma pré-candidata: "continuidade é avançar, avançar e avançar"

A ministra Dilma Roussef foi declarada oficialmente pré-candidata do PT à Presidência da República durante prestigiado ato político ocorrido no 4º Congresso do PT, em Brasília. Com propostas avançadas e discurso mudancista, a pré-candidata teve seu nome aprovado por unanimidade
Quando citou, no início do discurso, trecho do poema de Mário Quintana, a pré-candidata do PT à Presidência da República, Dilma Roussef, adiantou o tom de seu discurso, uma resposta a perseguição que sofreu da ditadura militar. “Esses que ai estão, atravancando meu caminho, eles passarão; eu, passarinho.” O nome de Dilma foi aprovado, por unanimidade, no encerramento do 4º Congresso Nacional do PT, neste sábado (20), em Brasília, sob os olhares dos dirigentes dos partidos aliados – PMDB, PSB, PCdoB e PRB.
O seu discurso – mais longo do que o do Presidente Lula, que durou 55 minutos – incluiu ainda críticas à oposição e a grande mídia, destaque às conquistas e vitórias dos sete anos de Governo Lula e anúncio do compromisso em avançar na luta pela distribuição das riquezas, combate as injustiças sociais e as desigualdades regionais, crescimento econômico e inserção protagonista do Brasil no cenário internacional. Ao assumir o compromisso de pré-candidata, Dilma declarou que dará continuidade às transformações e disparou convicta: "continuidade é avançar, avançar e avançar".
A ministra Dilma disse que “preferimos as vozes oposicionistas – o que dizem livremente os grandes jornais -, ainda que mentirosas e caluniosas, ao silêncio da ditadura”, lembrando que quando falta democracia econômica e social, falta democracia como um todo, destacando que ao promover a distribuição de renda com respeito aos direitos humanos, quem pode duvidar da democracia praticada pelo Governo Lula.
E também criticou a oposição, sem citar diretamente o PSDB, ao dizer que o PT não mudou as regras no meio do jogo para garantir um terceiro mandato para Lula, em referência a manobra do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso para permitir sua reeleição. “Vamos inaugurar o terceiro governo popular e democrático”, disse, arrancando aplausos e manifestações de aprovação do público.
A exemplo do presidente nacional do PT, José Eduardo Dutra, Dilma afirmou que as diretrizes de governo aprovadas no Congresso Nacional, serão submetidas ao debate dos partidos aliados e discutidas com a sociedade. Mas disse que assumiria alguns compromissos para indicar como quer continuar o processo de aprofundar o compromisso social dos governos Lula.
E manifestou propósito de ampliar o Bolsa Família e investir na qualidade na educação, “o meio de emancipação política e cultural do nosso povo”, afirmou.
Dilma emocionou a platéia quando fez referência aos companheiros mortos pela ditadura, dizendo que o exemplo deles - Carlos Alberto Soares de Freitas, Maria Auxiliadora Barcelos e Iara Iavelberg – lhe dá forças para aceitar o compromisso de concorrer às eleições presidenciais. Destacou também o apoio do Presidente Lula e do PT, que, segundo ela, “mudou quando foi preciso, mas nunca mudou de lado.”
Uma chuva de estrelas douradas desceu do teto, enchendo o palco, junto com as músicas-jingles em ritmo de carnaval, encerrando o evento, sob o eco das palavras finais de Dilma: “Vamos todos juntos até a vitória. Viva o povo brasileiro.”

Tarefa fácil

O Presidente Lula falou muito à vontade, expressando essa disposição logo no início do discurso, ao declarar que era tarefa fácil pedir votos para Dilma. Derramando-se em elogios à Dilma, o Presidente Lula destacou sua competência e inteligência.
“Essa é um coisa simples de fazer, convencer a votar na Dilma, até desnecessário, mais um microfone e um monte de gente é uma coisa apetitosa”, disse Lula, ao iniciar seu discurso de quase uma hora. Em sua fala, pautada pela preocupação do preconceito contra as mulheres, ainda vigente no Brasil, Lula disse que quem realmente vai convencer o povo a votar na Dilma será a campanha e os debates, para quebrar todos os preconceitos usados contra ela.
Segundo Lula, “o maior preconceito contra Dilma não é pelos defeitos, mas pelas qualidades”, citando como primeira qualidade o fato de “ser mulher”. Falou sobre sua experiência pessoal, admitindo que tanto ele como a companheira Marisa Letícia descobriram os limites da relação entre dois companheiros - que não é de um ser serviçal do outro, mas partilhar a vida – a partir da vivência política.

Menina e mulher

Referindo-se a Dilma inicialmente como “a menina de 20 anos que resolveu colocar sua própria vida em risco para garantir democracia no País”, Lula definiu a candidata à Presidente como “essa mulher que fez da sua ação governamental um trabalho extraordinário de servir aos outros e não se servir dos outros.”
Em meio a brincadeiras, que arrancaram risos e aplausos do público, Lula falou seriamente sobre o rigor de Dilma no trato da coisa pública, considerado uma virtude, que os adversários apontam como defeito. Disse ainda, em defesa de Dilma contra as acusações dos adversários, de que houve um tempo nesse país que os presos eram pessoas honestas, que lutavam pela democracia.
Ainda em defesa de Dilma, o Presidente Lula disse – em sinal de aviso – que vão acusá-la de “estatizista”. “Mas isso é bom, não temos que ter medo de assumir decisões importantes”, citando o exemplo de fortalecer a Eletrobrás como uma empresa grande nacional e multinacional.
O Presidente Lula assumiu, aos olhos dos dirigentes dos partidos aliados, que a candidatura de Dilma não é dele e não apenas do PT, é de uma coalizão de partidos. E lembrou que existem problemas nos estados que o PT precisa resolver com todos os partidos aliados - PMDB, PSB, PCdoB, PRB -, destacando ainda que cabe ao PMDB, como maior partido do País, indicar o candidato à vice na chapa da Dilma.
“Ela é candidata de uma coalizão de partidos políticos muito poderosa, que vai ajudar a ganhar e a governar. Não é a candidata do Lula, candidata-tampão, porque vai preparar a volta do Lula. Quem conhece política sabe que rei morto, rei posto, e um político nunca colocaria uma amiga, mas um adversário, com quem concorrer”, disse Lula, afastando a possibilidade de uma candidatura dele em 2014.
E manifestou desejo de que ela “cumpra um mandato extraordinário, para ganhar notoriedade, para ganhar outro mandato”. Segundo ele, “com nosso apoio, vai fazer mais e melhor do que fizemos.”
Usando o termo que o notabilizou - “nunca antes na história desse País” -, Lula citou todas as vitórias e conquistas do governo e disse que eleger a Dilma é coisa prioritária, porque representa a sua maior vitória, que é continuar transformando esse País. E encerrou sua fala dizendo que “humildemente, eu posso olhar na cara dos meus filhos, da minha mulher, dos meus netos e do povo e dizer que não existe ninguém mais preparado para governar o Brasil do que Dilma Roussef.”

Duas votações

Aplaudido de pé, sob o som alto do jingle de Dilma, Lula encaminhou a votação a favor da indicação de Dilma a pré-candidata a Presidente da República. Após a aclamação do nome de Dilma, o novo presidente do T, José Eduardo Dutra pediu nova votação, lembrando que três delegados não votaram. Após entregar crachá a Lula, Marisa Letícia e Dilma, foi feita nova votação. Decisão unânime: Dilma Roussef é pré-candidata do PT.
Dutra foi o primeiro orador do evento. Ele saudou Dilma como a futura Presidente do Brasil, fazendo silêncio para as manifestações do público de “Dil-ma, Dil-ma”. E depois corrigiu que “não é a futura, mas a próxima Presidente do Brasil.”
Ele destacou como qualidades de Dilma a competência, capacidade de trabalho e compromisso político, acrescentando que, “além disso, a nossa candidata tem profundo amor pelo povo brasileiro e compromisso com as práticas que estão sendo executadas pelo Presidente Lula.”
Dutra falou ainda, dizendo que repetiria à exaustão, que o documento aprovado no Congresso Nacional são diretrizes do Partido para ser apresentado e discutido com os partidos aliados e à sociedade.
Para Dutra, esse quadro de aliança, a candidatura de Dilma e a eleição de um nordestino à Presidente da República que tem seu nome na história do Brasil como o maior presidente que o País já teve eram situações inimagináveis anos atrás e que essa conjugação vai conquistar outro fato inédito que é eleger a primeira mulher Presidente do Brasil.
Um vídeo mostrando a história do Partido, desde a sua fundação, passando pelas campanhas eleitorais, as vitórias e as administrações de Lula, narrado por uma mulher que falava como se contasse a história de sua mãe, foi exibido antes das falas de Lula e Dilma.

Lilás e vermelho

As bandeiras lilases – cor símbolo do movimento feminista – substituíram as bandeiras vermelhas na manifestação. Aos gritos de “olé, olé, olá, Lu-la, Lu-la” e agito das bandeiras, os petistas e convidados cobravam o início do ato, já passados 40 minutos da hora prevista.
Logo cedo, todo o hall de entrada do Centro de Convenções, revestido em vermelho no chão e nas paredes – estava lotado. No auditório, minutos antes da hora marcada para o início do evento, ainda estavam sendo montados dois grandes painéis – um de cada lado – com o nome “Dilma” seguido da estrela do PT; e o palco ostentava um grande painel com a foto de Dilma e o Presidente Lula com os dizeres “Com Dilma, pelo caminho que Lula nos ensinou”.
Dando início ao evento, foram chamados ao palco, para compor a mesa, todos os petistas que ocupam cargo de governador e vice, prefeito e vice das capitais e todos os ministros, incluindo os de partidos aliados, como o comunista Orlando Silva, do Esporte, e o peemedebista Hélio Costa, das Comunicações, além dos líderes do governo e do PT na Câmara e Senado e os líderes dos movimentos sociais como o vice-presidente da UNE, Tiago Ventura e o presidente da CUT, Artur Henrique.
A chegada da comitiva de Lula e Dilma foi acompanhada pela montagem de ikebana (arte chinesa) por um grupo de mulheres e a apresentação de número musical.

Da sucursal de Brasília

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